O mercado residencial em Portugal muito tem evoluído na última década, embora haja problemas de fundo que permanecem (e até se agravam), como é o caso da dificuldade no acesso à habitação. Mas, apesar dos desafios marcados também pelos elevados juros e preços das casas, o mercado português tem estado em “expansão” nos últimos 10 anos, tendo mesmo duplicado o número de casas vendidas e disparado o número de novos créditos habitação.
Nos últimos dez anos, o número de avaliações bancárias, os novos créditos habitação e o número de casas vendidas “apresentaram uma tendência de crescimento, refletindo uma expansão do mercado imobiliário”, conclui o Instituto Nacional de Estatística (INE) na nota publicada esta quarta-feira, dia 26 de junho.
Assim evoluíram estes indicadores entre o primeiro trimestre de 2014 e o mesmo período de 2024:
- Venda de casas: o número de transações de habitações mais do que duplicou (+114,6%), passando de cerca de 15.000 no primeiro trimestre de 2014 para mais de 33.000 nos primeiros três meses deste ano.
- Avaliações bancárias: número de avaliações bancárias cresceu 330,7%. No primeiro trimestre de 2014, foram efetuadas 7.087 avaliações bancárias, e nos primeiros três meses de 2024 este número ascendeu a 30.523. “Este aumento pode ser atribuído a vários fatores, tais como o aumento da procura imobiliária e a evolução das taxas de juro que incentivou o financiamento bancário da aquisição de imóveis até meados de 2022”, explica o INE;
- Novos créditos habitação: número de novos empréstimos da casa subiu 920,8% em dez anos. Nos primeiros três meses de 2014 o número de novos créditos habitação foi de 2.811 e no primeiro trimestre de 2024 foi de 28.694.

“Como seria expectável, paralelamente ao crescimento das avaliações bancárias, verificou-se também um aumento muito significativo no número de novos contratos de crédito à habitação”, começa por explicar o instituto. Mas esclarece que “o número de créditos à habitação é geralmente inferior ao número de avaliações bancárias em cada período, pois nem todas as avaliações se convertem em concessão de crédito, e existem avaliações associadas à renegociação de créditos. Pontualmente, poderá existir um maior número de contratos de crédito do que avaliações essencialmente devido ao desfasamento temporal existente entre o momento da avaliação e a data efetiva de início do crédito”, acrescenta.
Estes dados mostram ainda que o número de casas vendidas em Portugal em dez anos é bem superior ao número de novos créditos habitação. E isto é explicado pelo facto de existir “número significativo de transações efetuadas sem recurso a crédito”, explicam deste o gabinete de estatística português. Estas transações podem ser levadas a cabo por portugueses, como por estrangeiros que têm maior poder de compra.
Nesta análise, destacam-se, pelo menos, dois momentos de contração no mercado imobiliário em Portugal: no início de 2020, devido à pandemia da Covid-19, e em 2022, depois de eclodir a guerra na Ucrânia, que fez disparar a inflação e os juros nos créditos da casa. O período de recuperação no mercado arrancou em meados de 2023, altura em que se verifica “uma maior aproximação dos três indicadores, com um aumento das avaliações bancárias e dos novos créditos e uma relativa estabilidade no número de transações, indiciando um aumento da preponderância do crédito na aquisição de habitação”, conclui o INE.